sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Quem não pode com mandinga, não carrega patuá!

Os Mandingos (em mandingo: Mandinka) hoje em dia são um dos maiores grupos étnicos da África Ocidental, com uma população estimada em 11 milhões.





Mandando pelos amigos Mestre Huguinho e Mestrando Gaguinho!

Muito bom!

:: Quem não pode com mandinga, não carrega patuá! (por Júlia Albernaz)
A frase título deste texto sempre me intrigou! Sempre quis saber o seu porque, uma vez que, num primeiro momento, ao ler a frase, tendemos a interpretar a palavra mandinga como “feitiço, despacho, mau-olhado, ebó”, como bem define o grande folclorista Luis da Câmara Cascudo em seu “Dicionário do folclore brasileiro”. Se fôssemos nos basear nesse significado, porém, o mais lógico seria pensarmos que, se uma pessoa não pode com mandinga, ou seja, com feitiço, é melhor que ela carregue um patuá, para se proteger, certo?
Na frase em questão, entretanto, o significado de mandinga é outro, a palavra se refere ao indivíduo de um dos maiores grupos étnicos da África ocidental, os Mandingas ou Malinke. Por sua proximidade geográfica com os árabes, os mandingas acabaram se tornando muçulmanos e aprendendo a se comunicar em árabe, dominando fala, leitura e escrita. Eram, ainda, muito bons em matemática.
Com o desenvolvimento do tráfico negreiro, grande parte dos mandingas veio parar no continente americano. Nas Américas, por dominarem o árabe e serem melhores em matemática do que os brancos, os mandingas passaram a ser vistos como feiticeiros. Afinal, na cabeça dos brancos, como poderiam simples escravos dominar a língua de outra cultura e ainda possuírem conhecimento matemático? Só podia ser algo sobrenatural! Assim, mandinga virou sinônimo de feitiço. Por suas habilidades e cultura, os mandingas passarem a ter privilégios em relação aos outros negros. Podiam, por exemplo, carregar trechos do Alcorão, livro sagrado da religião muçulmana, guardados em pequenos invólucros de pele de animal, pendurados no pescoço. Esses invólucros contendo trechos do Alcorão eram chamados de patuá e eram marca registrada dos mandingas.
Como os mandingas se tornaram muçulmanos, tinham Alá como Deus e Maomé como profeta, não aceitando quaisquer outros tipos de crença. Assim, os escravos que cultuavam os orixás eram vistos como rivais pelos mandingas. Os senhores de escravos, para estimular essa rivalidade entre os negros, davam aos mandingas cargos de confiança, como o de capitão do mato. Assim, muitas vezes, os mandingas eram responsáveis por capturarem os negros fujões.
Quando um negro tentava fugir, além de se preparar para ter que utilizar a capoeira para se defender, pendurava um patuá em seu pescoço, para que, quando fosse abordado por um mandinga, ele pensasse se tratar de um dos seus e não o perseguisse.
Os mandingas, entretanto, ao se depararem com um suposto negro fujão, tinham o hábito de abordá-lo em língua árabe. Assim, se o negro fujão, mesmo “disfarçado” de mandinga devido ao uso do patuá, não soubesse responder em árabe, seria identificado e capturado pelo mandinga, sendo, ainda, vítima de sua fúria.
Assim nasceu a expressão: Quem não pode com mandinga, não carrega patuá!
Fontes:
CASCUDO, Luís da Camara. Dicionário do Folclore Brasileiro. 5ª ed., Itatiaia, Belo Horizonte, 1984.
LIMA, Mano. Dicionário de capoeira. 3ª Ed., Conhecimento Editora, Brasília, 2007.
TRINDADE, Diamantino Fernandes; LINARES, Ronaldo Antônio. Iniciação à Umbanda vol. 2, Editora Madras, 2008.
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